VESTIDO DE NOIVA de Nelson Rodrigues - Modernismo do Brasil

12/01/2012 20:49

A estrutura do enredo mostra os elementos empregados na constituição da ação dramática.

A ação desenvolve-se de forma fragmentada e psicológica, misturando constantemente três planos. Essa fragmentação resulta do próprio estado da personagem Alaíde, de quem se procura revelar a personalidade.

O tempo está mais voltado para o plano psicológico que propriamente cronológico. A única data estabelecida pertence ao passado, reconstruindo o período da morte da personagem Clessi no ano de 1905. O tempo da ação é, portanto, posterior a isso, na década de quarenta.

O espaço: a ação se passa no Rio de Janeiro.

Personagens: Alaíde, personagem principal, é casada com Pedro; Pedro, tem um caso com Lúcia, sua cunhada e ex-namorada; Lúcia, irmã de Alaíde, é uma mulher vingativa e rancorosa; Madame Clessi, prostituta morta em 1905, mulher bela e misteriosa; Gastão e Dona Lígia, pais de Alaíde e Lúcia; Dona Laura, mãe de Pedro; Pimenta, é repórter do jornal O Diário; Carioca-Repórter, é repórter do jornal A Noite; Mulher de Véu, depois descobre-se que é Lúcia; O limpador, trabalha no prostíbulo e tem o mesmo rosto de Pedro; Namorado, é o assassino de Clessi; Homem de Barba e o Rapaz Romântico, acompanham o velório de Clessi; Mulher da Paciência, joga paciência no prostíbulo; Dançarina, dança de forma sensual com a Terceira Mulher no prostíbulo; Os Quatro Médicos, conversam enquanto operam Alaíde no hospital; Os Quatro Pequenos Jornaleiros, divulgam o suposto crime cometido por Alaíde em seu delírio.

O plano da realidade focaliza o momento presente, numa seqüência quase cronológica, interrompida apenas pelas lembranças de Lúcia acerca de suas discussões com Alaíde. Neste plano, Alaíde é atropelada por um automóvel no largo da Glória. O motorista foge sem que anotem o número da placa. Alaíde é levada para o hospital, onde é operada por quatro médicos. Mas ela morre e Lúcia chora. Durante o velório, Lúcia e Pedro discutem. Revela-se o romance entre os dois. Alaíde roubara Pedro de Lúcia, mas Lúcia reconquistou o antigo namorado. Lúcia afirma que só deixaria Pedro tocá-la quando estivessem casados. Os dois chegaram a planejar a morte de Alaíde. Agora com a morte desta, Lúcia sente remorsos e chega a suspeitar que Pedro tivesse planejado o atropelamento. Os dois acusam-se pela morte de Alaíde. Lúcia parece enlouquecer, pois ouve a voz da irmã morta. Por conselho da mãe, Lúcia retira-se para uma temporada de descanso na fazenda. Ao voltar, prepara-se para casar com Pedro.

O plano da Alucinação é conseqüência dos momentos que sucedem ao atropelamento da personagem principal e antecedem sua morte, pois a partir desta a personagem junta-se a Clessi, transformando-se num fantasma lírico. Através da alucinação, temos os delírios e as divagações da personagem, quando o seu subconsciente traz de volta Clessi, que foi assassinada pelo próprio namorado. Neste plano, os pensamentos e falas misturam-se de forma, às vezes, absolutamente incoerentes, predominando o sem sentido (non-sense). Os fatos da vida de Clessi embaralham-se aos delírios de Alaíde, que tomou-se de admiração pela história desta prostituta a partir de um diário encontrado no sótão da casa que pertencera a Clessi e para onde mudou a família de Alaíde.

O plano da memória está ligado às lembranças de Alaíde que, tendo sofrido o acidente e estando em estado de choque, faz uma espécie de flash-back (volta ao passado) para trazer à cena fatos importantes que antecederam o momento fatídico do atropelamento. Nesse eterno retorno às lembranças, que pareciam perdidas, uma vez que ela parece não se lembrar delas, Alaíde recorda o fato de Ter discutido com a irmã nos momentos que antecederam ao casamento. Também neste plano, temos a reconstituição de algumas partes do namoro de Clessi com o jovem estudante, pois em alguns instantes de memória de Alaíde mistura-se com a da prostituta, com quem a personagem se identifica.

 


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